sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Saúde e medicamento: Direito ou mercadoria?

Por Bernardo S. Pilotto¹ e Felipe A. Remondi²

A compreensão de que a Saúde é determinada social e dialeticamente (tanto o social influencia o individual, quanto o inverso) vem ganhando força nas últimas décadas em função de sua relevância, mas principalmente por sua coerência. Admitir que a Saúde é socialmente determinada nos obriga considerar diversos elementos (hábitos de vida, genética, ambiente, condições de vida, alimentação e trabalho) que compõe esse processo, de forma que para se promover saúde é necessário o trabalho articulado e inter-setorial sob esses determinantes.
Longe da ingenuidade de compreender esse processo de determinação como isento de interesses políticos e econômicos, nota-se que principalmente após a industrialização da sociedade o elemento mercantil tem influenciado direta e indiretamente esse processo. Na sociedade capitalista temos, hegemonicamente, a idéia de que a única possibilidade de ter saúde é consumir saúde. Consumir saúde leva diretamente ao consumo de medicamentos, que é o principal símbolo de “saúde” nesta sociedade.
Dada esta situação, a utilização do medicamento, da necessidade, prescrição e utilização, acontece por vias de uma ciência tortuosa, repleta de interesses econômicos e uma impressionante pressão das indústrias de medicamentos. O mesmo também acontece com as demais indústrias do complexo médico-industrial da Saúde, mas aqui faremos alguns apontamentos estreitos à indústria de medicamentos.
Uma dessas estratégicas foi evidenciada através da recente pesquisa do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), divulgada na edição do dia 31/05/2010 do jornal Folha de S. Paulo, e que assustou muitas pessoas: 48% dos médicos que recebem visita dos propagandistas dos laboratórios indicam remédios sugeridos pela indústria farmacêutica. A pesquisa mostrou ainda que 80% dos médicos recebem este tipo de visita, em média de 8 por mês; e “que 93% dos médicos afirmam ter recebido, nos últimos 12 meses, produtos, benefícios ou pagamento da indústria em valores até R$500“.
Os dados assustam, pois desmascaram uma realidade de consequências ruins para o paciente e de impacto social fora de nossa compreensão. As indústrias farmacêuticas, ao serem orientadas pela busca do lucro (assim como as outras indústrias) investem pesadamente em propaganda, chegando este gasto a ser o dobro do que ela gasta com a pesquisa de novos tratamentos.
Tamanha publicidade é direcionada a todos os segmentos envolvidos com a utilização do medicamento. Vai das propagandas veiculadas diariamente para a população leiga, fomentando a automedicação irracional, passando pelas propagandas destinadas aos profissionais prescritores, como o apresentado pela pesquisa, e finaliza nas propagandas destinadas às farmácias, contribuindo para a criação uma espécie de “empurroterapia“ nos balcões, ou seja, convencer o cliente a comprar e utilizar o medicamento mesmo que esse não seja necessário.
A pesquisa também mostrou que o convencimento dos laboratórios não se dá no campo técnico, que é um campo bastante discutível, mas através de brindes, pagamento de jantares, produtos, etc. No mar de medicamentos disponíveis no mercado (mais de 20 mil), os profissionais ancoram sua opinião naquilo que determinada indústria de medicamentos expressa através de ardilosas técnicas mercadológicas, originando hábitos de prescrição irracionais. Irracionais não pelo fato de que se escoram na falta de raciocínio na escolha de determinado tratamento, mas pelo fato de que esta escolha está bastante distante das reais necessidades da população, seja pela eficácia e segurança do tratamento ou até mesmo por ele ser inacessível financeiramente.
O grau de atrelamento, interesse financeiro e lucrativo envolvido na questão da Saúde defronta a proposta constitucional de que o Estado precisa garantir a saúde como direito inalienável ao cidadão, com integralidade do cuidado e a prioridade da prevenção, sem rebaixar a cura e a reabilitação. A questão principal que se coloca é: o quanto o direito a saúde é influenciado por uma sobredemanda curativa e enviesada, capaz de determinar a construção de um sistema de saúde mais voltado aos interesses das grandes corporações do que aos reais determinantes sociais da saúde?
Apesar de o Brasil ter avançado muito nos últimos anos em relação ao seu sistema de saúde, as políticas de medicamentos ainda são insuficientes para atender as demandas da sociedade, como nota-se, em muitos pontos, e apresentamos aqui alguns: 1) o Programa Farmácia Popular apenas revende por um preço menor os medicamentos comprados dos grandes laboratórios pelos preços comerciais, sendo assim mais vantajoso à indústria do que ao cidadão, que deveria ter aquele medicamento disponibilizado gratuitamente; 2) o parque industrial nacional é amplamente dependente do mercado externo e a produção pública de medicamentos vem sendo sucateada ao longo dos anos; 3) enfrenta-se grande lobby e batalhas jurídicas para qualquer tentativa de regulamentação mais rígida do setor; 4) os gastos públicos são crescentes e continuam a se orientar pela lógica curativista de saúde; 5) de todos os tipos de intoxicações, aquelas ocasionadas por ingestão inadequada de medicamentos ocupam o primeiro lugar no Brasil.
Para mudar esta situação, não são necessárias novas propostas. A VIII Conferência Nacional de Saúde, que reuniu 4 mil delegados de todo o país em 1986, se debruçou sobre o tema e decidiu: é preciso estatizar a indústria farmacêutica! Mesmo com esta força, visto que a proposta havia sido debatida em todo o país, esta questão não perdurou.
Concluímos que, vinte e quatro anos depois, mais do que nunca adquirimos clareza da relevância dessa proposta, assim ela precisa ser rediscutida urgentemente como pressuposto fundamental da construção de um SUS integral e à altura das necessidades do provo brasileiro.
(1) Bernardo Pilotto é trabalhador do HC/UFPR, sociólogo e diretor-licenciado do Sinditest/PR.
(2) Felipe Remondi é farmacêutico e mestrando em saúde coletiva na UEL.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

UniVerCidade - Recepção de Calouros Unificada da Saúde




Calendário:

01/03/11 (terça-feira) - Reunião para organização da Recepção, 18h no DAICB. Pauta: discussão sobre Universidade.

03/03/11 (quinta-feira) - Reunião para organização da Recepção, 18h no DAVET. Pauta: fechar a metodologia do dia da Recepção.

12/03/11 (sábado) - Seminário de facilitadores da Recepção (local e horário a definir)

14/03/11 (segunda-feira) - Recepção da Saúde, a partir de 8h na graminha do ICB.

18/03/11 (sexta-feira) - a partir de 18h no Campinho da Veterinária: CALOURADA UNIFICADA DA SAÚDE!


Participem!

Entrem em contato com a gente: 8438-3767 (Isabela).

Abraço coletivo, 
ESPAÇO SAÚDE MG - Saúde é luta!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SUS: saúde pública e de acesso universal?


Por Bernardo Seixas Pilotto*

Filas e mais filas, demora nas consultas, trabalhadores doentes atendendo usuários doentes, planos de saúde cada dia mais caros, ausência de políticas de medicamentos, violência na relação entre usuário e trabalhador, muitas reclamações... A situação da saúde pública no Brasil de hoje beira o caos.

A Constituição Federal garante a saúde como direito de todos e dever do Estado. Essa garantia só existe graças a uma luta muito grande de trabalhadores, usuários da saúde, sindicatos e movimentos populares nos de 1980. É um pouco da história desta luta e dos problemas atuais do sistema que vamos tratar neste texto.

Uma conquista popular

Até 1988, só os trabalhadores com carteira assinada tinham direito ao tratamento de saúde no Brasil. Isso excluía muita gente: desempregados, trabalhadores rurais, donas-de-casa, crianças, jovens, entre tantos outros. Além disso, o sistema de saúde brasileiro, chamado de Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), estava focado somente no tratamento de doenças e não na prevenção delas. Para os que estavam fora do Inamps restavam as casas de misericórdia, que podiam ou não atender tais segmentos.

Foi então que, no final dos anos de 1970 e começo dos 80, começou um movimento muito forte defendendo uma reforma sanitária no Brasil. Trabalhadores da saúde, intelectuais e o movimento popular (que organizava os usuários) lutavam pelo acesso de todos ao sistema de saúde e para que este sistema invertesse suas prioridades, atuando de maneira mais forte na prevenção, evitando as doenças. Foi trazida também uma visão mais ampla sobre o que é saúde, a partir do conceito de determinação social da saúde e da doença.

Pelo momento político em que acontecia (fim da ditadura militar) e pela sua visão de saúde, o movimento ampliou também suas pautas. Em um dos grandes fóruns de debate da época, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, de 1986, foi aprovado documento que dizia que a saúde no Brasil dependia de outras reformas estruturais, como a reforma agrária e o não pagamento da dívida pública. Então, em 1988, muitas dessas bandeiras foram aprovadas na Constituição: gratuidade, universalidade, integralidade, participação popular e equidade.

Por que não funciona melhor?

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um grande avanço, se comparado com o Inamps. Porém, mesmo tendo sido um avanço, o SUS trouxe também algumas brechas legais que enfraqueceram sua eficácia. Duas delas são fundamentais: a permissão para um sistema privado complementar e a ausência de garantia do financiamento. 
Podemos dizer, então, que o problema da saúde pública no Brasil não se resolve por falta de vontade política e de organização popular. Com o SUS, os governos têm todos os instrumentos para prover uma saúde pública de qualidade para a população brasileira. Mas é preciso ter coragem e determinação para enfrentar as corporações privadas da saúde, grandes laboratórios farmacêuticos e fazer valer o que está nas leis. Vale lembrar que os planos de saúde são grandes financiadores eleitorais, vinculando a ação de muitos políticos, das várias esferas, aos interesses dessas corporações. Por outro lado, o movimento pela reforma sanitária teve algumas ilusões institucionais: achou que bastava aprovar uma lei e esta lei viraria realidade. 

Entre as brechas legais do SUS, a permissão para a saúde privada complementar abriu espaço para que hoje esta seja a principal provedora de saúde, seja via planos privados, seja via serviços comprados pelo Estado com dinheiro público. A maior parte dos hospitais privados recebe muito dinheiro público. Já o financiamento é insuficiente, visto que a lei definiu que é preciso ter um mínimo de gastos em saúde, mas não definiu o que é saúde para este fim. Aproveitando-se disso, tem muita prefeitura e muito governo estadual que gasta em propaganda e diz que é gasto em saúde. 

Por conta disso, é preciso retomar a luta pela saúde pública e de acesso universal, que teve tanta força nos anos de 1980. Para isso, são fundamentais os fóruns populares de saúde que aglutinem trabalhadores, usuários e estudantes da área. É preciso lutar, porque saúde não se vende, louco não se prende: quem tá doente é o sistema social.

*Bernardo Seixas Pilotto, trabalhador do Hospital de Clínicas da UFPR, sociólogo e diretor-licenciado do Sinditest/PR, Curitiba, PR.

Dia Nacional da LUTA ANTIMANICOMIAL - 18 de Maio 2011



As reuniões de organização do dezoitão desse ano já estão acontecendo!

Toda quarta-feira, 18:30 no Sindicato dos Jornalistas (Avenida Álvares Cabral, 400 - Centro).

Hoje acontecerá a 6ª reunião!


Participem!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reunião de organização da Recepção de Calouros da Saúde

Dia: 22/02/11 (terça-feira)


Horário: 18h


Local: Cantina da Escola de Enfermagem, Campus Saúde da UFMG (Av. Alfredo Balena)


Pauta: discussão sobre saúde

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

1ª reunião do ano do Coletivo Espaço Saúde


Dia: 21/02/11 (segunda-feira)
Horário: 18h 
Local: Coreto da Praça da Liberdade
Leve algo de comer ou beber pois haverá pique-nique!