terça-feira, 30 de março de 2010

IV Conferência SM - Intersetorial


As Conferências de Saúde são fundamentais para a construção democrática das políticas públicas do Sistema Único de Saúde. A Saúde Mental já realizou três conferências setoriais, que produziram importantes deliberações que têm subsidiado a Política Nacional de Saúde Mental.

A primeira conferência foi realizada em 1987, no esteio da VIII Conferência de Saúde (1986), marco histórico na construção do SUS. A segunda, ocorrida em 1992, foi inspirada em outro marco histórico para o campo da saúde mental, a Conferência de Caracas (1990), que em reunião dos países da região, definiu os princípios para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica nas Américas. Já a terceira conferência aconteceu em 2001, ano em que foi aprovada a Lei 10.216, que trata dos direitos das pessoas com transtornos mentais e reorienta o modelo assistencial em saúde mental, na direção de um modelo comunitário de atenção integral. A III Conferência teve especial importância para impulsionar a Política Nacional de Saúde Mental, sobretudo com o respaldo da lei federal.

Nestes quase 10 anos do processo de Reforma Psiquiátrica sob vigência da lei, o SUS ampliou significativamente a rede de serviços extra-hospitalares e reduziu leitos em hospitais psiquiátricos com baixa qualidade assistencial, lugar de constantes violações de direitos humanos.

No Governo Lula, estas mudanças foram intensificadas e o cenário da atenção em saúde mental no país teve mudanças radicais: em 2002 havia 424 Centros de Atenção Psicossocial, que representavam cobertura de 22% da população, e atualmente são 1467 serviços, com 60% de cobertura assistencial. Neste período foi criado, por lei federal, o Programa de Volta para Casa, para egressos de longas internações psiquiátricas. Hoje são 3.445 beneficiários, que recebem o auxílio-reabilitação psicossocial de R$ 420,00. Além disto, há inúmeras outras ações e serviços de atenção em saúde mental: ações de saúde mental na Estratégia Saúde da Família, 860 ambulatórios, 2.600 leitos em hospitais gerais, 550 residências terapêuticas, 393 experiências de geração de renda (projeto Saúde Mental e Economia Solitária, que beneficia cerca de 6.000 usuários), 51 centros de convivência, entre outros. O governo federal criou também a Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas.


Neste cenário, a intersetorialidade é um dos principais desafios colocados à atenção em saúde mental. Com a consolidação da reorientação do modelo assistencial, a necessidade de ampliação da garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais e a intensa discussão da cidadania como princípio ético das políticas voltadas para este campo, é fundamental a articulação de diversas políticas sociais. A Saúde Mental tem destacado como parceiros privilegiados a Secretaria Especial de Direitos Humanos, o Ministério do Desenvolvimento Social, o Ministério da Justiça, o Ministério da Cultura, o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Aécio impõe o caos ao maior pronto-socorro de Minas


10/03/2010

RODRIGO NARCISO

Faltam remédios e equipamentos básicos; faltam profissionais; faltam salários adequados; e falta interesse do governador Aécio Neves (PSDB) para atender as reivindicações dos profissionais. Esse cenário de múltiplas carências e grave abandono motivou as equipes médicas do Hospital Pronto–Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, a iniciarem às 7h de ontem uma paralisação de advertência, com duração de 24h. Durante o período de paralisação, que termina nesta manhã, os profissionais do maior pronto-socorro mineiro atenderam só os casos mais graves e encaminharam os demais a outras unidades de saúde.

“A situação no hospital é crítica e já estamos no limite. Nossa reivindicação não é apenas salarial. Precisamos melhorar a estrutura do João XXIII para oferecer um serviço digno à população”, disse o presidente do Sindicato dos Médicos, Cristiano da Matta Machado.

Há 15 meses os médicos que atendem os casos de urgência e emergência do pronto-socorro, referência no atendimento de politraumatizados, intoxicados e queimados em Minas Gerais, iniciaram o movimento “SOS: o HPS João XXII pede socorro”. A pauta de reivindicações contempla, além da questão salarial, melhores condições de trabalho com garantia de equipes completas; fluxo constante e regular de medicamentos; materiais básicos no atendimento de urgência e emergência, além de leitos em número suficiente para suprir a demanda dos cerca de 450 pacientes que diariamente dão entrada no pronto-socorro.

De acordo com o sindicato, a política salarial adotada pelo Governo Aécio Neves se limita à concessão de abonos, que não são contabilizados, por exemplo, na hora da aposentadoria e do recebimento de outros benefícios. Uma proposta já foi encaminhada à Secretaria estadual de Planejamento e Gestão, mas o governo se recusa a atender as reivindicações.

Na quinta-feira, uma nova assembléia será realizada. Se não houver retorno positivo do governo estadual, os médicos podem parar por tempo indeterminado.


Livro de ocorrências do HPS é um diário de calamidades

10/03/2010

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) afirma que os médicos do HPS possuem todas as condições necessárias para atender a população e que não há motivos para que paralisem as atividades. No entanto, relatos escritos no Livro de Ocorrência dos médicos do hospital mostram que a percepção do Governo Aécio sobre as condições de trabalho no Pronto-Socorro não condiz com a realidade dos profissionais da saúde que, diariamente, sofrem com a falta de estrutura.

Eis alguns exemplos:

29/09/09: “Paciente vítima de acidente causado com hélice de avião, trauma torácico grave à direita com lesão de vários arcos costais e de parede torácica mais contusão pulmonar. Encaminhado ao bloco cirúrgico e retornou à sala de politraumatizados pois não tinha anestesista para resolver o caso”.

16/08/09 – Noturno: “Paciente confuso. Caiu da maca, com trauma fronto-facial à esquerda. Foi amarrado à maca para não cair novamente: sua maca tem grade, mas não à esquerda. (quebrada)”

06/03/2009: “Na sala de politraumatizados não há sonda de aspiração adequada para uso em pacientes entubados. A única que há, a mais fina, é no. 12, que não funciona para todos os casos. Isso prejudica a manobra de entubação de pacientes em parada respiratória”.

08/02/2009: “Equipe incompleta de neurocirurgia. Tomografia estragada. Vários pacientes na sala de politraumatizados aguardando exames de tomografia a serem realizados em outro hospital (H. Odilon Bherens). Plantã o noturno: tomografia não funciona. Apenas 1 bala de oxigênio para transporte dos pacientes. Não existem monitores para transporte dos pacientes graves. Não existem sondas vesicais (para sondagem de bexiga) de demora no. 14 e 16 no hospital”.

12/02/2009: “paciente O.F.O. – operada de lesão de tendões flexores (mão esquerda), não consegui auxiliar para esta cirurgia, e fiz o procedimento sozinho. A falta de auxiliar é uma constante no setor de cirurgia de mão”.

15/02/2009: “R.T.S. – com trauma craniano, afundamento de crânio, não há sala ou previsão de sala no bloco cirúrgico. Hoje apenas 5 funcionários no bloco cirúrgico, segundo a supervisora de enfermagem. A cirurgia iniciou somente às 03:00 hs da manhã. Não havia aparelho para tricotomia (raspar a cabeça) com bateria, foi usada lâmina de bisturi para raspar. Não havia gorro para a cabeça no bloco cirúrgico, usamos pro-pé (usado nos pés) em seu lugar”.

16/02/2009: “paciente V.F.G. ainda aguarda realização de traqueostomia, pois ainda não compraram cânulas apropriadas para o paciente”.

17/11/08: – “Sem lâmpadas e papel toalha no banheiro masculino do repouso médico há mais de 8 dias”.

24/02/2009: “a reveladora de filmes da tomografia está novamente estragada. Agora, além de não termos os resultados em mãos, temos que ir á sala de tomografia para ver o resultado. Desperdício de tempo e pessoal (que continua deficitário – 3 neurocirurgiõ es ao invés de 5)”.

25/11/08 às 9h10min: “Atendemos o paciente I.S.R., vítima de atropelamento por caminhão. Paciente grave, com fratura exposta do membro inferior esquerdo… Não há sistema fechado para coletar urina em nenhum setor do hospital (informação confirmada pela farmácia). Estamos expondo nosso paciente a um risco aumentado de infecção por falta de material.”

quinta-feira, 11 de março de 2010

Comecemos com Poesia

"OS DIAS DA COMUNA"

Bertold Brecht

Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram

Suas leis, para nos escravizarem.

As leis não mais serão respeitadas

Considerando que não queremos mais ser escravos.

Considerando que os senhores nos ameaçam

Com fuzis e com canhões

Nós decidimos: de agora em diante

Temeremos mais a miséria do que a morte.

Consideramos que ficaremos famintos

Se suportarmos que continuem nos roubando

Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças

Que nos separam deste bom pão que nos falta.

Considerando que os senhores nos ameaçam

Com fuzis e canhões

Nós decidimos, de agora em diante

Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que existem grandes mansões

Enquanto os senhores nos deixam sem teto

Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos

Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.

Considerando que os senhores nos ameaçam

Com fuzis e canhões

Nós decidimos, de agora em diante

Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que está sobrando carvão

Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão

Nós decidimos que vamos toma-lo

Considerando que ele nos aquecerá

Considerando que os senhores nos ameaçam

Com fuzis e canhões

Nós decidimos, de agora em diante

Temeremos mais a miséria do que a morte.

Considerando que para os senhores não é possível

Nos pagarem um salário justo

Tomaremos nós mesmos as fábricas

Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.

Considerando que os senhores nos ameaçam

Com fuzis e canhões

Nós decidimos: de agora em diante

Temeremos mais a miséria que a morte.

Considerando que o que o governo nos promete

Está muito longe de nos inspirar confiança

Nós decidimos tomar o poder

Para podermos levar uma vida melhor.

Considerando: vocês escutam os canhões

Outra linguagem não conseguem compreender

Deveremos então, sim, isso valerá a pena

Apontar os canhões contra os senhores!